Tuesday, December 02, 2008

Ensaio sobre a peça "A Idéia" com Márcia Cabrita




Uma boa “IDÉIA”

por Maneco Nascimento
Teresina - PI

O Piauí tem de seus privilégios e, entre eles, a recente passagem por Teresina de Márcia Cabrita com a estréia nacional da peça “A Idéia”, que ocorreu nos dias 29 e 30 de novembro de 2008, no Theatro 4 de Setembro.



Com um texto ligeiramente jovem e com tendências a puerilidade, o espetáculo escrito por Fernanda Young (leia-se jovem) e Alexandre Machado brinca de forma simples com a construção de uma Idéia dentro da “IDÉIA” feito teatro. O recurso da metalinguagem, logo metateatro por tratar-se de uma experiência cênica, dá um sopro de leveza, bom humor, picardia e ironia variável entre o falso cáustico e o sexo indispensável ao discurso da comédia para o palco do cacarejo orquestrado. É texto de fácil acesso e entendimento por adequar-se inteligentemente à linguagem de programas risíveis ao canal de comunicação de massa + popular, a TV. A peça se apropria de um quase cínico exercício propositado de fazer crer à platéia que ela interage na construção da história monologada. Ponto para os autores.


No palco ganha fôlego a direção de Alexandre Reinecke que é eficiente e deixa a marca do lobo no território explorado. A iluminação também é presencial e dinâmica para acompanhar a dinâmica da atriz. A música é ilustrativamente legal e o cenário de planos é operacional e gera surpresas com os adereços que vão sendo apresentados ao longo da “IDÉIA” que vai se formando.


Agora quando o assunto é teatro no peito e na raça, palmas para quem te quero! Márcia Cabrita com sua veia histriônica assentada é moeda de troca sem crise de recessão. Transforma a platéia em consumidora ativa. A atriz tem energia para não deixar o público se ressentir de marasmo. Prender a assistência num monólogo com texto aparentemente construído para parecer banal não é tarefa fácil, mas hercúlea, melhor dizendo, palas-ateniana. Não bastasse brincar de brincar de entreter, convencer do brinquedo apresentado, ainda se utiliza da fuga brechtiniana ao comentar, em meio a confusão da personagem com crise emocional e a convulsão psicológica de traição, que fazer monólogo não é fácil. Ponto para os autores, diretor e intérprete.


Márcia Cabrita é uma cabrona que desliza com elegância e alegria contagiantes pela cena e não pasta. Aprendeu cedo, crê-se pelo resultado apresentado, a mastigar e ruminar textos, mesmo os de pouco crédito, com uma técnica eficiente e avassaladora. Não fica a dever aos grandes nomes de comédia brasileira. Cabrita se garante e devora a arte de interpretar como quem vai a feira comprar chuchu, só que o prato servido tem sabor de doce de leite, para não esquecer o teatro brasileiro que se espelha na melhor expressão.


Ah! Quanto ao discurso de texto de identidade com jovens, que se desculpem os da idade da razão, mas chato não são os filmes iranianos e sim Fernanda Young.

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