Mesmo que você tente disfarçar, os exercícios revelam o seu perfil
Por Lilian Burgardt
Quinta-feira, 10 de agosto - 9h00. Enquanto a capital paulista acelera para mais um dia corrido de trabalho, nove candidatos aguardam, com o coração na mão, o início de uma "provação". Eles estão em uma dinâmica de grupo. Tensos e desconfiados, sequer pronunciam uma palavra. E, quando a consultora chega, ah...aí é que as mãos não param um minuto. Começa o tic-tac da caneta, o balançar incessante das pernas até que a primeira palavra quebra o silêncio: Bom dia a todos!
A dinâmica de grupo é uma das etapas das entrevistas de emprego mais temidas. É o momento em que você vai expor - mesmo que não tenha consciência disso - qualidades e defeitos que podem ser determinantes na hora de disputar uma vaga. Quase sempre o primeiro teste é aquele em que o candidato deve superar o medo, o nervosismo e falar, em alto e bom som, quem ele é, a que vieram e o que espera de sua vida profissional. Parece fácil, mas poucos conseguem falar claramente, sem gaguejar.
Daí para frente, a empresa começa a pegar mais pesado. A consultora aplica testes para saber qual é o seu perfil. Mas não adianta entrar na loucura de responder às perguntas como você acha que seria o estagiário ideal, pois isso não existe. Ao contrário: ao longo dos exercícios, a especialista em recrutamento faz questão de ressaltar que existem perfis adequados para diferentes empresas. Assim como uma colméia, que não sobreviveria caso fosse feita só de abelhas rainhas, o mesmo acontece com o mercado de trabalho. Ele precisa de líderes, mas também de pessoas com perfil mais executor e, ainda, aqueles que possuem uma visão estratégica.
É claro que ninguém quer, para sempre, ser o executor, mas, sim, crescer e ser líder. Existem, porém, pessoas que têm mais predisposição para isso (e já o demonstram na dinâmica). Nos exercícios em grupo, em que é preciso definir estratégias para vencer o adversário, começam a despontar aqueles (os futuros chefes) que coordenam as ações, questionam todas as decisões a fim de optar pela que melhor traduz o objetivo do grupo.
O jogo de dardos
O Universia acompanhou um dia de dinâmica de grupo numa das maiores empresas de consultoria profissional do mundo, que também atua em várias várias cidades brasileiras. O exercício era simples. Dividiu-se a turma em dois grupos que deveriam acertar o alvo até marcar 100 pontos. Porém, cada uma das equipes teria de montar, de antemão, uma estratégia definindo quantas seriam as tentativas para cumprir o objetivo, além da quantidade de erros e acertos durante as jogadas. O intuito era verificar a capacidade do grupo em cumprir uma meta e lidar com os obstáculos no meio do caminho, optando ou não por rever sua estratégia ao longo do jogo.
Aí que os diferentes perfis começaram a aparecer. A estudante Juliana*, 23 anos, demonstrou sua capacidade de liderança desde o início, ao discutir e pensar em uma estratégia, além de questionar as escolhas feitas pelo grupo. Na outra equipe, porém, não se identificou uma liderança explícita. A candidata Fernanda*, 25 anos, embora estivesse com lápis e papel na mão para coordenar as decisões, foi apagada pelo brilho de Fábio*, 24 anos, que apresentou uma visão estratégica conseguindo montar probabilidades de erros e acertos para que o grupo definisse qual seria sua posição.
Os dois exercícios - descrição de si mesmo e o jogo de dardos - foram os únicos testes aplicados pela consultora com estes candidatos. E, embora tenha sido a primeira fase da seleção, não servindo para desclassificar um candidato em detrimento do outro, foi capaz de mostrar em qual departamento da empresa o candidato se encaixaria melhor. "A primeira etapa serve para identificarmos se o candidato, por mais que tenha escolhido em sua inscrição um departamento específico da empresa, realmente se encaixa naquela opção. Do contrário, não o excluímos do processo, mas o encaminhamos para outra área, a fim de que ele vá para as próximas etapas, onde pode ser escolhido ou eliminado", explica a consultora Maria Ribeiro*.
Neste processo, as próximas etapas funcionam como um filtro, no qual os candidatos competem entre si e são observados não só pela consultora, mas pela equipe de Recursos Humanos da empresa e, ainda, pelo futuro gestor de sua área.
* Os nomes dos candidatos e o da consultora foram modificados para preservar o sigilo do processo de seleção, da empresa e, também, dos participantes.
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