RIO - A dinâmica de grupo, uma das técnicas utilizadas nos processos seletivos pelas empresas, é alvo de críticas de candidatos e do público em geral. Jogos e atividades propostos na dinâmica não são compreendidos ou vistos como bobagens. Em matéria publicada no mês de maio, quando profissionais davam dicas de como se comportar durante uma dinâmica, leitores se manifestaram contrários ao processo e criticaram as pessoas responsáveis pela aplicação da dinâmica. Em decorrência disso, o Globo Online entrevistou consultores da área de RH para tentar esclarecer as dúvidas dos leitores. Mesmo concordando que há falhas no processo, eles defendem o uso da dinâmica dentro do processo de seleção.
A dinâmica, destacam, permite observar a interação de um grupo de pessoas enquanto realizam uma tarefa conjunta. De maneira geral, as dinâmicas de grupo são indicadas para avaliar habilidades interpessoais e atitudes, onde itens como relacionamento entre as pessoas, liderança, cooperação x competição são melhores avaliados.
Segundo Jacqueline Resch, sócia-diretora da Resch Recursos Humanos, especializada na contratação de executivos de empresas de grande porte, durante a dinâmica, as pessoas assumem papéis no grupo e se comportam de maneira silimar àquela que se comportam nas situações da vida profissional ou social.
- As atividades propostas - debates, jogos, estudos de caso - são, na verdade, estímulos para provocar a interação do grupo, diz Jacqueline.
Já o professor Aguinaldo Neri, especialista em RH e diretor do site Senioridade (www.senioridade.com.br), explica que as competências exigidas atualmente para a vida empresarial são mais complexas e a dinâmica possibilita uma observação mais direta do que feita pelo lápis e papel, por exemplo.
- Uma pessoa com boa competência para se comunicar faz isso em qualquer situaçao. Quem se acostumou a se impor sobre outros faz isso sem querer e a toda hora. Sem falar que a ludicidade dos jogos diminui os níveis de censura sobre o próprio comportamento e a pessoa acaba mostrando-se mais próxima do que realmente é.
“ A dinâmica de grupo, quando bem utilizada, é muito útil como técnica de seleção, diz Jacqueline Resch ”
Em resumo, diz Neri, elas são situações planejadas para que determinados comportamentos apareçam e possam ser observados pelos selecionadores . Antigamente, convidáva-se também os futuros gerentes para esta observação.
- Acredito que a dinâmica de grupo, quando bem utilizada, é muito útil como técnica de seleção. É uma técnica complexa e os profissionais que as utilizam devem estar muito bem preparados para aplicá-la - afirma Jacqueline Resch.
Escolha das atividadesGeralmente, as escolhas das atividades da dinâmica de grupo está diretamente relacionada à possibilidade que elas oferecem para a expressão das habilidades e são escolhidas de acordo com as competências que devem ser observadas. Segundo Neri, liderança, comunicação, trabalho em equipe, foco em resultado e negociação, estão entre as mais comuns.
Jacqueline Resch cita, como exemplo, a empresa que quer avaliar a capacidade de liderança dos candidatos. Para isso, propõe uma tarefa qualquer a ser realizada pelo grupo e observa os comportamentos dos candidatos.
- É claro que os observadores têm de ter uma idéia comum sobre liderança, de modo que observem os mesmos indicadores daquela competência - afirma.
Por isso, diz Jaqueline, é que, em reuniões prévias de planejamento, eles especificam objetivamente o que pretendem observar. É que se chama de definição operacional.
- Digamos que uma determinada empresa definiu os comportamentos indicativos de liderança. São eles: tomar iniciativa de organizar a tarefa e fazer propostas que são aceitas pelo grupo; distribuir tarefas entre os membros do grupo; dar feedback e ajudar o grupo a atingir o resultado esperado , etc. Os candidatos que evidenciam estes comportamentos são considerados aptos naquela competênci - ressalta Jacqueline.
BambolêNa verdade, muitas situações e jogos propostos durante uma dinâmica de grupo deixam os participantes desorientados e, muitas vezes, indignados. Um candidato recebeu um bambolê de um entrevistador durante uma dinâmica de grupo. Olhou o brinquedo, levantou e foi embora. O que você faria ao receber o bambolê? O que o entrevistador quer avaliar com esta atividade? Impossível dizer o que se pretendia avaliar sem conhecer a instrução completa do exercício, afirma Jacqueline Resch.
- O que se pode dizer com convicção é que ninguém pretendia avaliar a capacidade do candidato de usar um bambolê. Pode ter sido utilizada no início da dinâmica como um exercício quebra-gelo, cuja finalidade é descontrair e integrar o grupo.
Para ela, o avaliador tem que ser extremamente cuidadoso na escolha dos exercícios, para jamais optar por atividades que inibam ou exponham os os candidatos.
Jacqueline acrescenta que, se o candidato não ficou à vontade, teria outras alternativas que não abandonar a a atividade, como ter perguntado aos observadores o objetivo do exercício ou mesmo negociado sua não participação nesta etapa.
- No primeiro caso, poderia ser visto como alguém que busca esclarecer os objetivos da tarefa antes de iniciá-la e, no segundo, como alguém que sabe gerenciar, através da negociação, situações desfavoráveis a ele.
Opinião semelhante tem o professor Aguinaldo Neri. Segundo ele, primeiro seria necessário conhecer quem planejou a atividade do bambolê para saber qual seria o foco da observação.
- Há situações nas quais até mesmo o comportamento de tentar negociar a solicitação seria visto como positivo. Recusar-se a fazer de uma forma negociada e com respeito a quem propõe, em alguns contextos, também pode ser bem visto. Este é o dilema de quem participa de dinâmicas, pois não sabem o que será observado.
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